Como o Brasil está se tornando protagonista no debate global sobre cidades inteligentes
Mais do que importar um modelo, é preciso construir um movimento capaz de transformar conhecimento em políticas públicas efetivas e inovação em qualidade de vida, de fato. / Foto: Divulgação Smart City Expo Curitiba
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Por Beto Marcelino
presidente do Conselho do Grupo iCities e colunista The Builders Paraná
Há alguns anos, eu me vi sentado em Barcelona, diante de uma mesa quase vazia, no Smart City World Congress de 2014. Pouquíssimos brasileiros, apenas quatro para falar bem a verdade, se reuniram para discutir as cidades do futuro. Era uma visão ainda incipiente, com ideias dispersas e pouca abertura.
Hoje, essa cena mudou completamente no Brasil.
No Smart City Expo Curitiba deste ano, pudemos ver um estádio de futebol, a Arena da Baixada, com mais de 22 mil pessoas, incluindo formadores de opinião, empresários, gestores públicos, startups, sociedade civil reunidos para debater soluções inteligentes para as nossas cidades.
Essa evolução me enche de alegria, e demonstra não só que o tema de cidades inteligentes deixou de ser uma ideia distante, mas que virou prioridade na criação de políticas públicas, na geração de negócios e de inovação. Passamos de discussões acadêmicas isoladas para eventos de escala global, como o que comentei da capital paranaense, que hoje é o segundo maior do mundo sobre o tema. Essa trajetória comprova que o Brasil tem relevância continental e protagonismo crescente na construção de cidades mais inteligentes, resilientes e humanas.
Vejo que parte desse avanço vem do amadurecimento das pautas. Se antes o foco estava apenas em conectividade e infraestrutura de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), hoje o debate inclui temas como mobilidade urbana sustentável, governança digital, inteligência artificial, segurança urbana, economia circular, inclusão social, planejamento climático, gestão de resíduos e habitação acessível. Essa expansão mostra que falar de cidades inteligentes é, acima de tudo, falar de diversidade. É discutir o cotidiano das pessoas, suas desigualdades e seus desafios.
Hoje, é comum ver prefeitos de cidades com menos de 50 mil habitantes debatendo tecnologia aliada à equidade, cidades resilientes frente às mudanças climáticas e soluções voltadas à eficiência no uso dos recursos, sempre com um objetivo em comum: colocar as pessoas no centro do desenvolvimento urbano. Esse movimento é muito poderoso, afinal, no planeta, somos todos moradores de uma cidade, e se os gestores dos municípios estão se capacitando, todos nós temos muito a ganhar com isso, sem dúvidas.
Tenho a honra de fazer parte da comitiva brasileira, que hoje conta com mais de 120 pessoas, que irá participar do Smart City World Congress em Barcelona, uma tradição que mantenho há muitos anos. Voltar ao epicentro global do debate das cidades inteligentes é uma oportunidade ímpar para colher aprendizados, estreitar parcerias internacionais, mostrar ao mundo o que estamos fazendo por aqui nas empresas e nos municípios por meio das políticas públicas.
Ao longo de todos esses anos, e inspirados pelo que vimos em Barcelona, entendemos que mais do que importar um modelo, era preciso construir um legado para a população brasileira sobre cidades inteligentes: um movimento capaz de transformar conhecimento em políticas públicas efetivas e inovação em qualidade de vida, de fato. Desde então, nossa missão tem sido adaptar as melhores práticas do mundo à nossa realidade, respeitando as diferenças regionais e a riqueza cultural de cada território.
O que buscamos não é apenas realizar eventos, mas formar uma geração de gestores, empreendedores e cidadãos conscientes do papel que cada um tem na construção de cidades mais inteligentes. Esse é o legado que queremos deixar: um Brasil protagonista no cenário global, que aprende, cria e inspira.
A cidade inteligente de hoje não é um espetáculo tecnológico, mas sim um espaço que se redefine no dia a dia. É a cidade que caminha para implantar soluções que melhoram a qualidade de vida de todos, ao melhorar a qualidade do ar, ao facilitar deslocamentos, ao reduzir custos, ao ampliar a segurança e ao cuidar do meio ambiente, para citar alguns exemplos.
Claro, os desafios persistem.
Infraestrutura desigual entre regiões, escassez de recursos, baixa capacitação técnica, burocracia, barreiras regulatórias e políticas, lentidão na adoção de modelos sustentáveis, tudo isso ainda existe. Mas se voltarmos àquele auditório quase sem brasileiros de anos atrás, podemos dizer, com certeza, que já caminhamos muito, saímos do sonho e expectativa e estamos trabalhando em projetos espalhados por todas as regiões do Brasil. Os empreendedores estão oferecendo soluções inovadoras e os governos estão ajustando suas legislações para viabilizar essa transformação.
Vejo um futuro promissor, com ainda mais projetos de impacto social, mais parcerias público-privadas que realmente funcionem, mais soluções que partem da realidade das cidades brasileiras. Em Barcelona, vamos mostrar para o mundo que não estamos apenas aprendendo, mas também exportando conhecimento, tecnologia e visão de futuro.
Minha versão de 2014 agradece e se engrandece com tantos avanços!
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