Painéis destacam desafios que vão de fake news em contextos críticos à governança multissetorial na corrida pelo Net Zero

Smart City Expo Barcelona traz alertas sobre desinformação e chama cidades à ação pela transição climática

Painéis destacam desafios que vão de fake news em contextos críticos à governança multissetorial na corrida pelo Net Zero. / Fotos: The Builders Paraná

Por Fabrício Umpierres, editor / somos@parana.builders
Direto do Smart City Expo World Congress, em Barcelona (ESP)

A desinformação como ameaça real aos sistemas urbanos e a necessidade de articulação multissetorial nos planos de descarbonização foram os grandes temas no segundo dia do Smart City Expo World Congress 2025, que reúne mais de 25 mil participantes na capital catalã até quinta-feira (6).

Informação sob ataque: quando a cidade precisa se defender


Em um mundo hiperconectado, as cidades se tornaram alvos não apenas de ataques cibernéticos, mas também da manipulação estratégica de dados. Esse foi o alerta de Michael Lakomski, diretor de Digitalização e Cibersegurança da prefeitura de Poznan (Polônia):

“O mais difícil hoje é combater a desinformação. Tivemos a imprensa polonesa hackeada, com manchetes falsas de que o país havia entrado em guerra. Conseguimos reverter graças à responsabilidade da mídia — mas o risco é real.”

Lakomski destacou ainda iniciativas emergenciais como projetos em cooperação com governo e universidades para impedir contaminações de fornecimento de água por ataques russos — algo que já aconteceu em áreas da Polônia.

Da Europa para os EUA, a cidade de Nova Orleans, palco do Furacão Katrina em 2005, traz lições sobre confiança pública. Para Kimberly Lagrue, CIO da cidade, “o governo falhou conosco em 2005. Desde então, entendemos que comunicação não é escolha — é sobrevivência. Hoje, as mesmas ferramentas que usamos para medir enchentes são as que os cidadãos têm no bolso.” A executiva reforça o caráter multicanal da comunicação em crises: além de apps e sensores, a prefeitura usa rádios locais, igrejas, lideranças de bairro e canais comunitários.

Net Zero nos territórios: a transição energética pede governança e sociedade

Outra discussão que ganhou corpo no dia foi as ações que algumas cidades europeias estão fazendo para se tornarem Net Zero (quando se atinge o equilíbrio entre emissão e retirada de gases de efeito estufa do meio ambiente) até 2050. Apesar de discursos alinhados, os representantes de Estocolmo, Milão e Florença colocaram os pés no chão e mostraram que os projetos ainda estão em fase muito embrionária..

Painéis destacam desafios que vão de fake news em contextos críticos à governança multissetorial na corrida pelo Net Zero

Lisa Enarsson, da Prefeitura de Estocolmo, resumiu em dados uma contradição estrutural: “Apesar de temos 27 projetos de descarbonização em andamento, apenas 24% do total de recursos necessários para a transição vêm de recursos públicos. Isso significa que não há transição sem o setor privado — e, também, sem o envolvimento dos cidadãos”. 

Milão, por sua vez, apresentou seu conceito de “Urban Molecules” — distritos-laboratório onde políticas ambientais são testadas em pequena escala para entender se os processos “net zero” estão realmente gerando resultados para a região. Em Florença, a dimensão cultural da transição ficou evidente. “Uma mudança forçada desrespeita o passado. Uma mudança ignorada compromete o futuro”, alertou Elena Aversa, executiva da área de projetos da prefeitura. A cidade — símbolo da história urbana europeia — vem ajustando seus modelos de mobilidade e energia sem quebrar o ‘pacto emocional’ de moradores e visitantes com o espaço.

Thomas Osdoba, diretor do programa europeu NetZero Cities, lembrou que a discussão sobre as cidades Net Zero começou há cerca de 25 anos e que ainda não há um consenso sobre por onde começar. A visão, contudo, deve ser sistêmica: “não estamos falando só de energia, de combustíveis fósseis. Isso envolve comida, água, mobilidade, cultura e economia. Sem multigovernança e processos verdadeiramente coletivos, não chegamos lá.”

NOSSA OPINIÃO

O segundo dia do Smart City Expo Barcelona escancarou o quanto as cidades caminham sobre uma tênue fronteira entre hiperconexão e hiperfragilidade. Se por um lado a digitalização proporciona eficiência, previsibilidade e resiliência, por outro, expõe territórios a riscos inéditos — da manipulação de dados à sabotagem de infraestruturas vitais.

Já no eixo climático, ficou evidente que a neutralidade de carbono não será alcançada por decretos, mas por um pacto cooperativo entre Estado, empresas e sociedade. O desafio é menos técnico do que político e cultural: quem define o que é prioridade? Quem arca com o custo das mudanças?

Em um momento em que as cidades tornam-se protagonistas na crise global, o Smart City Expo reafirma a centralidade da governança como o verdadeiro “sistema operacional” do futuro urbano.

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