Primeiro dia do evento reúne cerca de 1,2 mil participantes e reforça o protagonismo do Paraná com debates sobre internacionalização, liderança colaborativa e transformação digital.
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Conferência Anprotec 2025 em Foz do Iguaçu (PR) destaca integração global dos ecossistemas brasileiros

Primeiro dia do evento reúne cerca de 1,2 mil participantes e reforça o protagonismo do Paraná com debates sobre internacionalização, liderança colaborativa e transformação digital.

A 35ª Conferência Anprotec começou nesta segunda-feira (13), em Foz do Iguaçu (PR), reunindo cerca de 1,2 mil pessoas entre gestores públicos, líderes empresariais, pesquisadores e representantes de ambientes de inovação de todo o país.
Com o tema “Ecossistemas Colaborativos e Integrados à Inovação Global”, o evento — promovido pela Anprotec e pelo Sebrae — propõe uma imersão nos desafios da colaboração entre academia e mercado e na inserção internacional dos ambientes promotores de inovação.

O Paraná, anfitrião desta edição, aproveitou o evento para mostrar a força do seu ecossistema, por meio de uma feira de negócios que reúne universidades, parques tecnológicos, centros de inovação e entidades como o Sebrae, o Tecpar e a Fundação Araucária. O espaço evidencia o crescimento do estado na área, que hoje conta com mais de 490 ambientes de inovação credenciados, distribuídos por 65 municípios.

Liderança colaborativa e o desafio de integrar ciência e mercado

A programação abriu com o workshop “Liderança Colaborativa em Ambientes de Inovação”, moderado por Cesar Rissete, diretor técnico do Sebrae-PR, e com participações de Aldo Nelson Bona, secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, e Carlos Américo Pacheco, ex-diretor-presidente da FAPESP (2016–2025).

O debate destacou a importância da governança e da liderança para aproximar ciência e setor produtivo – um desafio ainda latente no país. Embora o Brasil ocupe o 13º lugar mundial em produção científica, aparece apenas na 52ª posição em inovação aplicada, lembrou Rissete. “Estamos estudando como a liderança pode fazer com que os ambientes promotores de inovação realmente gerem impacto na sociedade, integrando atores e resultados”, afirmou.

Bona apresentou o caso do Sistema Estadual de Ambientes Promotores de Inovação do Paraná (Separtec), criado em 2017, que passou de 18 para 490 ambientes credenciados em sete anos. Ele explicou que o modelo de fomento estadual se baseia em um princípio de integração: ambientes vinculados a ICTs recebem recursos diretos; os não vinculados precisam se associar a uma ICT para acessar financiamento. “Criamos um sistema em que o parque ajuda a universidade a sair dos muros, e a universidade dá lastro científico ao parque”, resumiu.

Entre os programas complementares, o secretário destacou os Agentes Regionais de Inovação (ARI) — que atuam conectando pesquisas e demandas empresariais — e a Residência Técnica em Gestão da Inovação, que forma gestores especializados em ecossistemas.

Transformação digital e integração global:
o papel das empresas e do Estado

O segundo painel do dia, mediado por Sheila Oliveira Pires (Embrapii), abordou “Como a transformação digital e a inovação colaborativa estão moldando o futuro dos negócios e impactando o desenvolvimento regional e global”. Participaram Alex Canziani (Secretário de Inovação e Inteligência Artificial do Paraná), Juliana Cerqueira Melo (Parque Tecnológico da Bahia) e Fábio Carvalho (Brasilseg).

Sheila apresentou dados sobre a Lei do Bem, principal instrumento de incentivo à inovação empresarial no país. Em 2023, as empresas investiram R$ 41,5 bilhões por meio do mecanismo, mas menos de 7% desse total envolveu parcerias com universidades e ICTs. “É um momento oportuno para que as empresas aprimorem sua performance e fortaleçam conexões globais. A integração internacional é a agenda do dia”, observou.

Universidades, parques tecnológicos e empresas paranaenses se apresentam ao país em feira de negócios
Universidades, parques tecnológicos e empresas paranaenses se apresentam ao país em feira de negócios. / Foto: The Builders PR

Canziani destacou os avanços do Paraná na transformação digital, citando o HubX — parceria entre governo, Tecpar e Senai Londrina — que oferece soluções de IA para empresas de todos os portes. Também anunciou uma nova edição do Anjo Inovador, programa que já destinou R$ 30 milhões em recursos para novos negócios inovadores, com aportes de até R$ 250 mil por startup.

O secretário ainda ressaltou os investimentos em infraestrutura de dados, com uma rede para conectar pesquisadores e a parceria tecnológica com a Índia, que prevê a instalação de nove supercomputadores em universidades estaduais. “Temos 25 mil doutores no estado. O que precisamos agora é conectá-los às oportunidades do mercado”, afirmou.

Internacionalização e soberania tecnológica:
o Brasil no mapa global da inovação

A primeira sessão da tarde abordou o tema da cooperação internacional e da inserção global dos ecossistemas de inovação. Para Marcelo Nicolas Camargo, da FINEP, o Brasil ainda enfrenta o desafio de tornar suas startups mais competitivas no cenário internacional. Segundo ele, muitas empresas acabam “viciadas” em recursos de subvenção econômica e não chegam efetivamente ao mercado. “A competição hoje é global. Startups de sucesso precisam estar conectadas a cadeias internacionais, e os parques tecnológicos terão papel central como plataformas de softlanding para essa integração”, afirmou.

Camargo destacou que, no contexto atual, o valor dos ecossistemas está menos no espaço físico e mais nas conexões que são capazes de gerar. “Parques têm que ser hubs, criar conexões e ter vocação. Internacionalizar sem uma identidade clara é muito mais difícil. O primeiro passo é entender com quem queremos nos conectar lá fora”, completou.

Na mesma linha, Adriana Ferreira de Faria, presidente da Anprotec, defendeu que investir em inovação é também uma questão de soberania tecnológica. Ela lembrou que o Brasil tem cerca de 15 mil startups, mas menos de mil com capacidade real de escalar globalmente — um contraste marcante com a China, que abriga aproximadamente 500 mil startups e 15 mil incubadoras. “Se estamos construindo novos parques e ambientes de inovação, eles precisam nascer olhando para o mundo. A colaboração internacional tem que ser um princípio desde o início”, afirmou.


Nossa análise: escala só faz sentido com propósito e vocação

O primeiro dia da Conferência Anprotec 2025 confirmou uma inflexão importante na agenda da inovação brasileira: o país começa a discutir menos a criação de ambientes e mais a qualidade das conexões que eles são capazes de gerar. A pauta deixou claro que o futuro dos ecossistemas passa por três dimensões — liderança colaborativa, digitalização produtiva e inserção global — e que a soma dessas forças determinará a capacidade do Brasil de transformar conhecimento em soberania tecnológica.

O Paraná surge, neste cenário, como referência nacional de governança e integração entre academia, governo e empresas, mostrando que a escala só faz sentido quando há propósito e vocação. O desafio que se segue é transformar essa arquitetura em movimento: conectar talentos, dados e capital em torno de uma visão de que entenda a inovação não como política setorial, mas como infraestrutura essencial para o desenvolvimento.


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