líderes de ecossistemas mostraram como os parques científicos estão deixando de ser espaços físicos para se tornarem plataformas de transformação — conectando comunidades, universidades, empresas e políticas públicas.

A nova geração de parques tecnológicos brasileiros une inovação social, tecnologia e impacto territorial

Nos painéis da 35ª Conferência Anprotec, líderes de ecossistemas mostraram como os parques científicos estão deixando de ser espaços físicos para se tornarem plataformas de transformação — conectando comunidades, universidades, empresas e políticas públicas. / Fotos: Divulgação Anprotec

As salas cheias, repletas de professores, gestores de hubs, prefeitos, secretários municipais, empreendedores e demais lideranças do ecossistema de inovação, refletiram o tom dos debates no dia 35ª Conferência Anprotec, realizada em Foz do Iguaçu (PR). Nos paineis, especialistas apresentaram uma visão que vem se consolidando no país: os parques tecnológicos brasileiros estão evoluindo de espaços físicos para ecossistemas estratégicos, conectando inovação, sustentabilidade e impacto social.

E no centro das discussões, uma constatação: a inovação do futuro é colaborativa e territorial – nasce da interação entre universidade, empresa, governo e comunidade, e precisa equilibrar o avanço tecnológico com a transformação social.

ORQUESTRAÇÃO SOCIAL PARA ‘FURAR A BOLHA’ DA INOVAÇÃO 

Moderado por Jorge Audy, superintendente de Inovação e Desenvolvimento do Tecnopuc/PUCRS, o painel Transformando Desafios Globais em Oportunidades Locais destacou o papel da inovação colaborativa diante de desafios globais como mudanças climáticas, transição energética, segurança alimentar e inclusão digital.

Audy provocou o público ao lembrar que “a quatro quadras do Tecnopuc está a comunidade do Morro da Cruz — é o Brasil real, que precisa de outro tipo de inovação, não só tecnológica, mas também social. Para ele, os ambientes de inovação precisam romper suas bolhas e se tornarem instrumentos de orquestração social, conectando soluções técnicas a melhorias concretas na vida das comunidades.

“Se a inovação não gerar melhoria para a comunidade, não faz sentido”, resumiu.

Um dos exemplos citados foi o projeto da PUC-Rio na Rocinha, que transformou a favela em um laboratório de inovação social. O edital inicial investiu R$ 9 milhões em 20 projetos, com apoio posterior do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O modelo cresceu, alcançou o Complexo da Maré e já inspira iniciativas em Porto Alegre, no próprio Tecnopuc. “Temos que nos conectar com os problemas reais da sociedade. É isso que inspira novos projetos”, completou Audy.

Representando o SUPERA Parque de Inovação e Tecnologia, de Ribeirão Preto (SP), Maria Angélica Oliveira Luqueze apresentou um panorama de projetos que mostram como os parques podem catalisar pesquisa aplicada em saúde e biotecnologia. Durante a pandemia, o SUPERA acelerou o desenvolvimento de um exame rápido de detecção da Covid-19, além de apoiar startups dedicadas à detecção de doenças raras, biotecnologia, nanotecnologia e saúde preventiva.

Trabalhamos de forma orgânica, a partir de parcerias com o Hemocentro e pesquisadores da universidade. Essa cooperação gera resultados que permanecem na memória das pessoas”, disse. A pesquisadora destacou ainda que o parque tem expandido sua atuação para áreas como energia, construção civil e agronegócio, consolidando-se como um exemplo de cooperação entre ciência, empresas e sociedade.

Audiência engajada nos paineis sobre o futuro dos ambientes promotores de inovação
Audiência engajada nos paineis sobre o futuro dos ambientes promotores de inovação

O diretor da Anprotec e da COPPE/UFRJ Romildo Toledo defendeu o papel do Estado como indutor da inovação aberta em setores estratégicos, especialmente em saúde e segurança pública. “Inovação aberta pode gerar impacto de larga escala e beneficiar as camadas mais vulneráveis. E isso não exclui o retorno econômico das startups”, observou Toledo. Maria Angélica, por sua vez, reforçou que investidores privados também são fundamentais nesse ecossistema, unindo forças ao poder público. “São várias frentes que, juntas, viabilizam soluções que realmente transformam a sociedade”, afirmou.

PARQUES TECNOLÓGICOS E A CONVERGÊNCIA GLOBAL

No painel Convergência entre Ambientes e Transformações Globais, a presidente da Anprotec, Adriana Ferreira de Faria, moderou um debate que apontou o próximo passo da jornada: os parques científicos e tecnológicos como hubs estratégicos de articulação, conectados a tecnologias emergentes como inteligência artificial, 6G e internet das coisas.

“Fazer parques tecnológicos no interior do país ainda é um desafio. Mas é justamente nesses territórios que eles geram as transformações mais significativas”, afirmou Adriana, lembrando que mais de 30% dos parques estão concentrados na região Sul.

O case do Hub One, em Cascavel (PR), apresentado por Thiago Guerra, presidente da Fundetec, exemplificou esse movimento. O parque atua como um polo de integração entre pesquisa, educação e negócios tecnológicos, fortalecendo o Oeste do Paraná como um ambiente de inovação aplicada.

O professor Domingos Sávio Alcântara Machado, vice-presidente de Estratégia, Internacionalização e Inovação da Universidade Tiradentes, apresentou o caso do Tiradentes Innovation Center, em Sergipe — um parque tecnológico privado e sem fins lucrativos, criado há cinco anos.

Inspirado em referências como Porto Digital, Tecnopuc e nas metodologias do MIT, o Tiradentes Innovation abriga hoje 26 startups e pretende chegar a 150 nos próximos cinco anos. “Nosso primeiro modelo foi de ocupação; o segundo, de articulação estratégica. Agora entramos na terceira fase: retenção de talentos e criação de iniciativas sociais”, explicou Alcântara.

A experiência também teve reflexos institucionais. O parque foi um dos articuladores da Lei de Inovação do Estado de Sergipe, e vem contribuindo para a diversificação econômica de uma região historicamente dependente do petróleo, com foco em IA, cloud, 5G/6G, IoT e blockchain.

O parque do futuro é um ecossistema. Ele traduz as necessidades regionais e se torna uma plataforma inteligente e integrada”, afirmou Alcântara.

NOSSA ANÁLISE 

Os dois painéis evidenciaram o amadurecimento dos parques tecnológicos brasileiros, que começam a operar como redes de transformação conectadas ao território e às grandes tendências globais. O que antes era infraestrutura, hoje é inteligência de articulação: parques que combinam inovação tecnológica e social, atraindo talentos, fomentando pesquisa e articulando políticas públicas.

Os casos apresentados na Conferência mostram que a nova geração de ecossistemas não apenas cria startups, mas um futuro mais diverso, conectado e humano, onde cada parque se torna um ponto de convergência entre conhecimento, comunidade e propósito.

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