Guarapuava acelera para se tornar polo de inovação no coração do Paraná
Cidade aposta em vocações regionais, infraestrutura e conexão entre universidades e empresas para atrair startups e consolidar um ecossistema inovador no centro do estado. / Fotos: Divulgação
Guarapuava, no centro-sul do Paraná, começa a ganhar espaço no mapa nacional de inovação. Conhecida historicamente pela força no agronegócio, no setor florestal e no cooperativismo, a cidade vem se reposicionando como um polo tecnológico emergente ao combinar infraestrutura urbana, vocação acadêmica e iniciativas em saúde, biotecnologia e logística. Projetos estruturantes como a Cidade dos Lagos e o Cilla Tech Park são símbolos de um movimento que já tem horizonte definido: 2035.
Idealizada por um grupo de empresários – entre eles Vilso Dubena e Odacir Antonelli – a Cidade dos Lagos nasceu com o propósito de ir além do urbanismo tradicional. Desde o início, foi projetada para integrar saúde, educação, comércio, lazer e inovação em um único território – uma visão de futuro que já rendeu ao projeto a certificação internacional LEED Gold, colocando-o entre os empreendimentos urbanos mais sustentáveis do Brasil.
Com mais de 6 milhões de metros quadrados, o complexo reúne o Shopping Cidade dos Lagos, o Hotel Ibis, o campus da UTFPR, o Hospital São Vicente e o Hospital Regional Bernardo Ribas Carli. Essa infraestrutura transformou a região em um território de inovação, atraindo investidores, pesquisadores e startups. “Criar um ambiente onde as pessoas vivem, trabalham, estudam e empreendem no mesmo território sempre foi nossa inspiração central. A chegada do Cilla Tech Park foi um movimento natural dentro dessa visão”, afirma Vilso Dubena, presidente do conselho deliberativo do parque tecnológico.
Cilla Tech Park: a “araucária da inovação”
No centro desse ecossistema está o Cilla Tech Park (CTP), instalado na Cilla Corporate Tower, dentro da Cidade dos Lagos. Em 25 de setembro, o CTP comemorou cinco anos de operação com evento que reuniu autoridades, associados, residentes e a comunidade de inovação local. Atualmente, o parque reúne cerca de 40 residentes entre startups, empresas e pesquisadores, e já é credenciado pelo Separtec, o sistema estadual de parques tecnológicos.

Sua estrutura foi concebida como uma “Araucária Tecnológica”, símbolo da região: as raízes representam os associados que sustentam o ecossistema; o tronco, a governança; os galhos, os vetores de atuação — que incluem o Parque Tecnológico, o coworking, o Espaço Maker e o Celeiro de Inovação. “Sob a copa dessa araucária cresce um verdadeiro bioma de inovação, onde empresas, empreendedores e universidades colaboram de forma integrada”, resume Dubena.
Entre os diferenciais está o Vale do Genoma, dedicado à pesquisa aplicada em biotecnologia e saúde, além de projetos em ervamate, madeira engenheirada e agro. O espaço maker, por exemplo, é conectado ao hospital e permite a produção local de modelos anatômicos em 3D — um procedimento que antes só era realizado em grandes centros.
“Só o fato de nos posicionarmos como parque tecnológico já atrai muita coisa. O parque recebe visitas diárias, inclusive de fora do Brasil. Criar conexão com pessoas que estão fazendo coisas relevantes fora do nosso meio abre a mente. Esse é o principal ponto que muda quem está conosco”, explica Pedro Fernandes Boraczynski, diretor de operações do Cilla Tech Park.
Educação, saúde e logística como pilares
A força acadêmica é um dos trunfos da cidade. Guarapuava concentra cinco universidades e um Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação que reúne mais de 80 representantes de empresas, instituições de ensino e ambientes de inovação. Esse ativo garantiu à cidade posição de destaque no ranking estadual do Separtec: já supera Curitiba em número de ambientes de inovação cadastrados, ficando atrás apenas de Ponta Grossa.
Essa base educacional se soma a uma infraestrutura hospitalar de referência e a uma localização estratégica no centro do estado, consolidando três frentes principais de atuação: agro, saúde e logística. “Se Guarapuava não tinha vocação para a saúde, agora tem”, reforça Pedro.
A conexão com escolas e jovens também tem espaço no planejamento. Oficinas de robótica, colônias de férias de tecnologia e programas de aceleração estão em curso para preparar novas gerações. O Fórum Guarapuava 2035, criado há cinco anos, passou por revisão de prioridades e agora busca converter engajamento em negócios concretos. “O jovem que veio para cá há alguns anos é quem vai gerar resultado em 2035”, projeta Pedro.

Internacionalização e novos horizontes
O plano de longo prazo inclui também a internacionalização. Em julho, Guarapuava recebeu uma comitiva da França para discutir soluções em madeira engenheirada e intercâmbios em inovação. Segundo Dubena, movimentos como esse reforçam o potencial do território em áreas como bioeconomia e sustentabilidade.
“Nos próximos anos, queremos consolidar nossa estrutura para receber empresas e laboratórios de alto padrão, fortalecer programas voltados a agritechs, TI e economia criativa, e ampliar a integração global. Ambientes de inovação só fazem sentido se forem instrumentos de transformação real, e nossa ambição é que o Cilla Tech Park seja motor para o desenvolvimento regional sustentável e transformador”, completa o presidente do conselho.
Em outubro, Guarapuava sediou o Paraná Faz Ciência 2025, maior evento de divulgação científica do estado, realizado no Centro de Eventos da Cidade dos Lagos. A programação integrou a 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e teve como tema “Ciência, Tecnologia e Inovação na Ação Contra a Mudança Global do Clima”, reunindo universidades, pesquisadores, estudantes e comunidade em oficinas, mostras, debates e atividades culturais.
O evento consolidou a cidade como uma das principais vitrines de pesquisa e tecnologia do Paraná, reforçando seu papel estratégico na formação de talentos e na conexão entre ciência e desenvolvimento regional.
